Na primeira parte deste artigo buscamos através de números decorrentes de pesquisas, tanto nacionais como internacionais, entender porque tivemos um aumento tão avassalador de incidentes cibernéticos durante a pandemia, ocasião em que grande maioria das empresas, senão todas, adotaram o modelo home office.
A Universidade de Stanford, o Instituto de Pesquisa Monster apresentam percentual aproximado de colaboradores com sintomas de estres e esgotamento, entre 70% e 90%. O que não ficou claro nesta pesquisa qual percentual está no home office e o que estaria no isolamento social. Ainda há confusão quanto ao limite entre o trabalho e a vida pessoal, estando em casa.
Como exigir do colaborador eficiência, produtividade, flexibilidade e ainda ser feliz? De uma hora para a outra foi obrigado a permanecer em casa trabalhando, muitos deles fazendo uso de seu próprio equipamento que divide com o filho para a aula ou trabalho da esposa, muitos sem treinamento em termos de segurança, morando num apartamento pequeno, com filhos pequenos ou que não estão indo para aula, com cachorros/gatos (não é de se admirar o alto índice de abandono nesta pandemia) e até quem sabe uma pessoa idosa de saúde frágil.
Passados cinco meses de home office, empresas têm se afirmado satisfeitas com os resultados desse novo modelo de trabalho. Cerca de 94% das empresas brasileiras afirmam que atingiram ou superaram suas expectativas de resultados com o home office. Muitas atestam até crescimento na produtividade. Por outro lado, o alto rendimento pode ter um custo: as horas livres dos funcionários, que não conseguem “encerrar o expediente” dentro da própria casa.
Segundo a pesquisa realizada com 464 trabalhadores em home office pelo Centro de Inovação FGV-SP, 56% dos entrevistados afirmaram que encontram muita dificuldade ou dificuldade moderada para equilibrar as atividades profissionais e pessoais. Entre os entrevistados com 25 anos ou menos, o índice salta para 82,6%.
Revelam que são 30% dos brasileiros sofrem com Burnout, esgotamento físico e mental por excesso de trabalho. A Síndrome de Burnout (distúrbio emocional ligado ao esgotamento profissional extremo) é um perigo real.
E os problemas não possuem somente caráter emocional ou mental. Com ambientes e móveis improvisados dentro de casa, a possibilidade de dores físicas se torna maior.
“A má postura pode trazer vários problemas na coluna que representa a maior causa de afastamento no trabalho, segundo dado do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Entre as complicações mais comuns estão a cervicalgia, que se trata de uma dor na parte superior da coluna e pescoço, e a lombalgia que é a dor na parte inferior, perto do quadril.
A forma como se passa o dia inteiro sentado também pode ocasionar as dores de cabeça. “Causa tensão na face muscular e consequentemente a enxaqueca. Dependendo da posição do monitor do computador, se estiver contra a claridade, dá reflexo na tela e também pode dar dor de cabeça”, afirma a fisioterapeuta.
(Extraído de artigo do Diário e Uberlândia)
Além dos cuidados com postura e os móveis, é recomendável ainda tirar pelo menos 10 minutos de pausa a cada uma hora de trabalho para fazer alongamentos, levantar da cadeira, alongar braços, pescoço, e lombar.
E muito cuidado com os sinais de estres e ansiedade, que podem evoluir para síndrome de Burnout, um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, com quadros de pressão alta, dor de cabeça e musculares, dentre outros.
Um case muito interessante, de cuidado da saúde física e mental dos colaboradores, é um admirável trabalho executado pelo RH da Astellas Farma:
“Às segundas e quartas-feiras, o dia começa com alongamento virtual, e, às terças e quintas, com meditação guiada. Às sextas-feiras, fica disponível uma sala de vídeos para quem quiser participar de uma happy hour com os colegas às 13 horas — o fim do expediente é mais cedo, pois a companhia adota a short friday. E todos os dias os empregados podem se conectar em uma para um café online. A média de adesão às iniciativas é de 40 a 70 funcionários. “As pessoas sentiam falta do convívio e dos momentos de pausa”, diz Laís Mastantuono, diretora de RH da farmacêutica. E a tecnologia chegou ao plano de saúde, que agora conta com telemedicina para todos. “Falar sobre saúde é um caminho sem volta, que não sairá de nossa agenda”, afirma a executiva.” (Extraído de artigo da VC S/A)
Mas, voltando ao quesito home office e produtividade.
Conforme levantamento da Boston Consulting Group, indica que a queda de produtividade no home office é maior para pais com filhos até 5 anos e que mulheres dedicam até 15 horas semanais a mais, a atividades domésticas quando comparada aos homens.
Esta pesquisa foi realizada nos Estados Unidos, Reino Unido, França e Itália.
O estudo, chamado “Easing the Covid-19 Burden on Working Parents” mostra que “…53% dos profissionais com filhos nessa faixa etária tiveram sua capacidade de realizar atividades profissionais reduzida em razão das maiores responsabilidades familiares e domésticas no cenário de coronavírus”
“O estudo mostra também um maior nível de dedicação da mulher às tarefas domésticas. Elas chegam a dedicar 15 horas a mais por semana aos cuidados com a casa e os filhos quando comparadas aos homens. Além disso, o estudo aponta que 37% do público feminino se declarara totalmente ou substancialmente responsável pela rotina doméstica. Como consequência, 66% das entrevistadas nos quatro países pesquisados indicaram preocupações com a saúde mental, enquanto o índice entre homens é de 52%. A preocupação com a performance no trabalho também é apresentada na pesquisa, com os indicadores entre mulheres (38%) e homens (35%) mais equilibrados.” (Extraído de artigo de Administradores)
Se estes foram os resultados para países do primeiro mundo, fico pensando no panorama brasileiro. Pois vamos a ele.
No Brasil, segundo a pesquisa da Filhos no Currículo e MM360, a falta da rede de apoio é uma grande barreira para um home office produtivo. Conciliar filhos e trabalho (70%), dar a atenção necessária aos filhos (56%), manter a produtividade no trabalho (51%) e cuidar de si (53%) são os maiores desafios, o que é ainda mais complexo para pais e mães de filhos de até 3 anos. Como resultado, 47% das pessoas com filhos nessa faixa etária afirmam que a produtividade diminuiu na pandemia.
Para as mulheres, cuidar dos filhos não se resume a garantir a alimentação e higiene. Cuidar inclui brincar, conversar, dar atenção. Como elas não conseguem dar conta de tudo isso, a maioria começa a se sentir frustrada.
Pesquisa realizada pela Catho mostra que as maiores dificuldades de trabalho para as mães em trabalho remoto são conciliar isolamento social e saúde mental (42,5%) e conciliar trabalho, tarefas domésticas e filhos (40,5%). Das que disseram ter sofrido piora da saúde emocional, 79% afirmaram sentir sintomas de ansiedade.
Tenho tido dificuldades em encontrar material e tendências em que de fato se analise ou se oriente como proceder neste novo modelo de trabalho, especificamente considerando a saúde física, mental e emocional do colaborador.
De fato só tenho encontrado dicas para a segurança da informação, para lideranças, mas nada que revele uma real preocupação com a saúde do colaborador.
Há um custo humano bastante considerável sendo enfrentado de forma meio que solitária. É certo que esta realidade, novidade e desafio está sendo para a empresas e para as pessoas que nela trabalham. Contudo a peça fundamental, o ativo que precisa ser considerando com muito mais atenção e investimento é o ser humano.
Por último, gostaria de compartilhar alguns insights do site “Fast Company”.
Eles são uma das maiores referências em business e inovação do mundo, e listaram alguns tópicos que podem ser utilizados para elaboração da análise de desempenho neste cenário atual. Veja a seguir resumidamente:
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Entrega das informações: além dos prazos, é importante também saber a qualidade da entrega. O colaborador apresenta diferenças do trabalho individual e coletivo estando remotamente?
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Comprometimento com normas e cultura da empresa: trabalhando em casa, o funcionário mantém como suas prerrogativas as regras da empresa? Elas foram adaptadas para o novo cenário?
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Habilidades e comportamentos individuais: questione a resiliência, inteligência emocional, proatividade, relacionamento interpessoal, autogestão, espírito de coletividade. Uma avaliação psicométrica pode muito bem apontar os pontos fortes e debilidades nestes quesitos.
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Promova reuniões: se a equipe precisa de organização para o trabalho home office, a empresa também pode ser mais clara sobre seus cronogramas e comunicações.
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Pense em um Plano de Desenvolvimento Individual (o PDI): o líder junto ao colaborador define metas no desenvolvimento da carreira atrelando-as aos objetivos institucionais. Nesta etapa, cabe proporcionar treinamentos – que além de um excelente motivador, mostrará o interesse da empresa no desenvolvimento de seus funcionários.
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Tecnologias a favor: muitos recursos podem ser usados, como as ferramentas de gerenciamento de tempo Asana ou Trello, ou ainda mais complexas como a Fsense. Uma ótima opção (e bem simples de se usar) é a nuvem, com notificações de alterações de documentos, bem como definir o que cada colaborador fará no documento.
O Ser Humano continua sendo a peça mais delicada nesta nova equação, sem a qual o quebra-cabeça da empresa em sua plenitude, jamais logrará ser montado eficientemente.
Cuide de seu colaborador ! Ninguém vai para lugar nenhum sem uma equipe unida e saudável!
www.oikosprivacidade.com.br – Sylvia Larraguibel Urquieta